Medicina & Arte

sexta-feira, junho 08, 2012

NOVA ARTE DE ESCREVER?...ou o retrocesso?


ABORTO ORTOGRÁFICO!... - Importa questionarmo-nos...
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Enviada: Quinta-feira, 7 de Junho de 2012 14:27
Assunto: Fernando Paulo Baptista actualizou o seu estado: "Importa questionarmo-nos sobre se os nossos mais a...


Fernando Paulo Baptista actualizou o seu estado: "Importa questionarmo-nos sobre se os nossos mais altos dirigentes e responsáveis políticos estarão a agir no sentido de se evitar incorrer em erros de natureza epistemológica, metodológica e pedagógica, como são os seguintes: a) A tentação do simplismo para equacionar e resolver o que é complexo ou hipercomplexo; b) A cedência ao facilitismo perante o que é difícil, com a desvalorização da “pedagogia da superação dos obstáculos” (das “aporias”) e o esquecimento de clarificadores conceitos como os de “engrama noemático”, “iconograma mental”, “habitus” (Pierre Bourdieu ), “Gestalt”, “insight”...; c) A memorização “cega”, sem o suporte estruturante de uma aprendizagem inteligente, laboriosa e crítico-reflexiva; d) A violação do “princípio da coerência” (e da coesão) sistémica e morfo-estrutural pela legitimação da “arbitrariedade” (vejam-se os exemplos de autêntica “babelização” da escrita relacionados com o emprego do “hífen” — «malmequer» (sem hífen), ao lado de «bem-me-quer» (com hífen); «mandachuva» (sem hífen), ao lado de «guarda-chuva» (com hífen); «cor-de-rosa», ao lado de «cor de laranja»] e dos acentos — por / pôr; para / pára (note-se que a forma verbal «pára», agora, por artes do Novo Acordo, passou a dispensar o acento [para], porque, segundo os autores e defensores do Acordo, «o contexto resolve»; mas deixou de «resolver» no caso do verbo «pôr», que mantém o acento gráfico!...); e) A não assunção de uma postura dialógico-dialéctica de fundo, sustentada num enfoque epistémico-linguístico crítico-analítico e de alcance sistémico e holístico, fomentador e potenciador de um debate poliédrico e polifónico, intelectualmente rigoroso e sério, tendo em vista a construção de uma síntese normativa consistente, coerente, harmoniosa e digna da tão vasta, tão rica e tão diversa comunidade lusíada, espalhada pelas sete partidas do mundo; f) A não ponderação bem amadurecida (contra a precipitação...) das consequências das decisões tomadas à margem de um sentido prudencial, diagnóstico, retrospectivo e prospectivo, prognóstico e projectivo, pressupostos numa verdadeira estratégia de concepção e planeamento do pensar e do agir; g) O entendimento erróneo e acrítico e a utilização abusiva do conceito de “evolução”, assumido como se tudo decorresse do quadro diacrónico do dinamismo intrínseco, metamórfico, perfectível e fenoménico da linguagem humana e das línguas, que levam à convocação do argumento de que «a língua evolui» e, daí, à justificação imediatista de “alterações” que, como é óbvio, defluem apenas da aplicação “mecânica” e “por decreto” do actual Acordo Ortográfico. Na realidade, do que se trata é de uma “artificiosa decisão” incidental (lamentavelmente “involutiva”...) que é perfeitamente controlável e neutralizável, se para isso houver discernimento e vontade política, e que nada tem que ver com o sentido de desenvolvimento gradativamente superador, progrediente e aprimorante que marca a ideia de “evolução” (ex.: aquele é um país «evoluído»; aquele discurso releva mesmo de um intelectual de pensamento «evoluído»; trata-se de uma língua estruturalmente «evoluída»...)!... Importa, isso sim, questionar, de modo correcto, fundamentado e construtivo, o processo que conduziu ao presente estado de coisas!... Um acordo «ortográfico», desde que bem concebido, bem fundamentado e bem elaborado, além de preservar a identidade e a estabilidade dinâmica (a homeostasia) do sistema linguístico e a criatividade das práticas escritas textualmente mais densas e mais profundas, não só não impede a liberdade diferenciadora e plural das práticas da oralidade como potencia a evolução perfectiva da própria língua. h) O desconhecimento (e consequente confusão) da essencialidade distintiva dos diferentes modos de realização concreta do binómio «linguagem verbal <> línguas naturais»: o «modo oral» e o «modo escrito»; i) A ilusão quanto às virtualidades unificantes do “monofónico” e “univiário” critério foneticista da “pronunciabilidade”, contra o critérico grafemicista da “escrituralidade” radicada na historicidade genealógica, morfogénica, identitária e polifónica da filologia e da etimologia (esta, com a inerente e plural garantia das duas fulcrais vias ou fontes da lexicogénese: a via popular e a via erudita), o que não deixa de nos fazer lembrar que cada palavra é, em si própria, um búzio espiral e verticalmente carregado de fundura histórica, de mistério e de potencial semiogénico; j) A grave confusão entre “fonemas” e “grafemas” (cf. Base IV: onde se diz «sequências consonânticas», em vez de «sequências grafémicas»...), e a consequente anomalia consubstanciada na padronização, estandardização e regulação da «ortografia» (práticas escritas da língua) pela «ortoépia» / «ortofonia» (práticas orais da língua), consagrada pelo actual Acordo Ortográfico. l) A imprescindibilidade e a exigência cidadã de uma clarificação paramétrica e criterial do entendimento filosófico-epistemológico e do ajuizamento ético-axiológico do que são ou deveriam ser as “decisões políticas” (pertinentes... bem fundamentadas... ou o seu contrário...). Em coerente sintonia com esse questionamento, quero declarar perante todos que, reduzido à minha simples condição de cidadão livre de qualquer vínculo político-partidário, franciscanamente despojado de toda a espécie de poder ou ambição dele e exclusivamente dedicado às causas da Educação, da Cultura e da Cidadania, aquilo que, nesta fase outonal da minha vida, me move, acima de tudo, é o futuro da educação linguística dos meus netinhos e, com eles, o de todas as crianças e jovens de Portugal, da CPLP e da Diáspora. Por tudo isso e sem poder prescindir dos princípios que me foi dado aprender na área da Filosofia da Ciência e da Epistemologia, deixem-me convocar, aqui, a sempre actual “lição” de Karl Popper (e.g.: La logique de la découverte scientifique, Paris, Payot, 1982; Conjectures and Refutations – The Growth of Scientific Knowledge, London / Henley, Routledge and Keagan Paul, 41981; La connaissance objective, Paris, Flammarion, 1999; Búsqueda sin término — Una autobiografía intelectual, Madrid, Editorial Tecnos, 1985), para vos pedir a generosidade de refutarem as minhas posições, de as submeterem a uma exigente prova de fogo «falsificacionista», com o objectivo de as validarem ou invalidarem. Sei que, mesmo na hipótese da sua invalidação, se o fizerdes apresentando propostas alternativas mais consistentes e intrinsecamente melhor fundamentadas, já me sentirei sobejamente recompensado das largas horas de apaixonado e aturado labor investigativo e reflexivo que venho desenvolvendo em torno desta questão que, hoje, se me afigura bem mais importante do que eu próprio inicialmente imaginava."