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terça-feira, setembro 04, 2012

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Nova doença auto-imune tem sintomas como a sida, mas não é contagiosa

03.09.2012 -
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As infecções que aparecem com a nova doença, identificada em 2004, combatem-se com antibióticos e outros medicamentosAs infecções que aparecem com a nova doença, identificada em 2004, combatem-se com antibióticos e outros medicamentos (Paulo Pimenta (arquivo))
 Desconhecia-se por completo há menos de dez anos, mas, a pouco e pouco, pessoas de origem asiática obrigaram os médicos a prestar atenção a uma nova doença, que tem semelhanças com a sida. Desde 2004 que a comunidade médica relata casos de doentes de meia-idade com dificuldade em debelar infecções, que, normalmente, são combatidas pelo corpo. Ao contrário da sida, causada pelo vírus VIH, esta nova doença é de origem auto-imune, por isso é o próprio sistema imunitário que se vira contra o doente e o deixa vulnerável às infecções. Mas não há nenhuma prova, frisam os cientistas, de que seja contagiosa.
Esta síndrome ficou mais bem caracterizada num estudo publicado na revista New England Journal of Medicine, em Agosto. No artigo, a equipa de cientistas fez a análise do maior número até agora de doentes e verificou que a maioria produzia um anticorpo que atacava um elemento do sistema imunitário importante na neutralização de infecções - o que deixava estes pacientes vulneráveis a diversas infecções oportunistas. Continua, no entanto, sem se perceber quais são os factores que provocam a produção deste anticorpo.

"Esta doença é semelhante à sida, porque existe um processo que ataca o sistema imunitário e incapacita alguém de se proteger de determinado tipo de infecções. É diferente da sida, porque a sida é causada por um vírus, o VIH", diz ao PÚBLICO Sarah Browne, cientista do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos. "A doença que descrevemos é quase de certeza provocada por um anticorpo que estes indivíduos produzem e que ataca uma proteína necessária ao funcionamento do sistema imunitário."

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Browne é uma das autoras do estudo, que analisou 97 pessoas com este tipo de infecções. Os resultados mostraram que 88% destes pacientes tinham o anticorpo que atacava o interferão-gama, uma molécula fundamental para o processo imunitário. "O interferão-gama é uma proteína que todos nós fabricamos. Tem muitos papéis na regulação do sistema imunitário e é importantíssimo para lutar contra certas infecções, não todas", esclarece a investigadora. O interferão-gama é produzido por um tipo de glóbulos brancos, os linfócitos T, enquanto os anticorpos são produzidos pelos linfócitos B.

Cinquenta e dois doentes do estudo tinham uma infecção causada por uma micobactéria e 45 sofriam de outras infecções oportunistas. Os cientistas não associaram a causa destas infecções à sida, nem estabeleceram nenhuma origem hereditária.

Muitos doentes tinham um historial de meses e anos de infecções graves, febres, perda de peso e cansaço. Kim Nguyen é um destes casos. Esta costureira vietnamita de 62 anos, que vive no Tennessee, Estados Unidos, desde 1975, foi obrigada a ir ao médico em 2009 depois de anos de febre persistente, infecções nos ossos e outros sintomas fora do comum, relata a agência Associated Press (AP).

"Para começar, ela é uma mulher pequena, mas quando a vi pela primeira vez pesava 42 quilos e, entretanto, perdeu peso até aos 39 quilos", disse Carlton Hays, médico da doente que trabalha em Jackson, Tennessee, em declarações à AP. Kim Nguyen foi depois seguida nos Institutos Nacionais de Saúde durante quase um ano. "Sinto-me óptima agora", diz Kim Nguyen. "Sentia-me tonta, com dores de cabeça, quase caía", explica. "Não conseguia comer nada."

Os sintomas da doença são tratados com antibióticos e outros medicamentos para as infecções. Mas nem sempre resultam e, às vezes, os sintomas regressam. "Alguns pacientes podem ficar muito doentes e, ocasionalmente, morrem", conta Sarah Browne, que começou a investigar esta doença em 2007, nos Institutos Nacionais de Saúde, quando se juntou aí ao laboratório de Steven Holland, outro autor do estudo.

Este laboratório tem tratado alguns doentes, que, até agora, são todos de origem asiática. Os primeiros casos foram reportados em 2004, na Europa, mas eram de tailandeses e filipinos. Há outros três casos documentados no Reino Unido, outros nos Estados Unidos, mas a doença ocorre maioritariamente na Ásia Oriental.

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