Medicina & Arte

sexta-feira, dezembro 04, 2009

DEPRESSÃO NO IDOSO

A doença no País é pouco diagnosticada entre os mais velhos, mas é mais agressiva, podendo até provocar AVC. Tristeza e apatia ainda são considerados sintomas normais da terceira idade. Especialistas alertam para o problema

A depressão afecta 6 a 10% da população idosa em Portugal. Embora não existam estudos nacionais, estas são estimativas internacionais que os especialistas acreditam estar próximas da realidade. Mas estes números podem subir ainda mais, uma vez que os médicos estão cada vez mais alerta para diagnosticar o problema, sublinha o psiquiatra Horácio Firmino.
"Um dos grandes problemas da depressão geriátrica é a dificuldade de diagnóstico. Alguns médicos consideram que a tristeza e a apatia sentida por alguns idosos é característica da idade e não um sinal de depressão", alerta o especialista.
Por isso, Horácio Firmino, da Associação Portuguesa de Gerontopsiquiatria (APG), lembra que é preciso estar a atento quando estes doentes procuram os cuidados de saúde primários, com queixas físicas como cansaço e outros sintomas menores. Estes sintomas podem ser sinal de uma doença psicológica como a depressão e estes são os médicos que têm o primeiro contacto com estes doentes.
Muitas vezes, os próprios idosos não dão atenção aos sintomas que têm, adianta o chefe do serviço de psiquiatria dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC). "São comuns os casos de pessoas que passaram muitos anos a tomar conta de alguém mais depressivo do que eles e por isso até se esquecem do que sentem", explica Horácio Firmino. E quando a outra pessoa morre é que percebem finalmente que também estão deprimidos.
Embora a depressão não seja mais mais frequente nos idosos do que nos adultos mais jovens, o médico adianta que a sua recuperação é mais demorada e tem efeitos mais graves. "Existem depressões com alterações vasculares, que podem provocar um AVC (acidente vascular cerebral)", explica.
Em média, um idoso depressivo tem de tomar medicamentos durante mais tempo até conseguir recuperar. Em termos comparativos, um adulto depressivo revê a sua medicação ao fim de quatro semanas, enquanto que um sénior só faz essa avaliação um mês e meio depois, salienta o especialista.
A depressão é ainda um factor de risco para a demência. "Nas pessoas que tenham um historial de episódios depressivos há a forte probabilidade de num prazo de cinco anos desenvolver demência", assegura Horácio Firmino.
Por seu lado, o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM) chama a atenção para a necessidade de prevenção da depressão entre os mais velhos. António Palha refere que "as pessoas estão na fase final da vida, perdem poder económico, deixam de se sentir úteis e ficam deprimidos".
Assim, defende que "se as pessoas chegam à terceira idade com saúde física temos de fazer tudo para que também tenham saúde mental". Estas pessoas sentem "falta de atenção, de ocupação e têm muitas vezes problemas familiares e de solidão"