POESIA
Sonho. Não Sei quem Sou
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
Fernando Pessoa,
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
Fernando Pessoa,
2 Comments:
Há memórias que se trazem como lastro...
By Anónimo, at 12:56 da manhã
Era uma veZ
Era uma vez um Sonho polido
Que voou para longe do seu dono
Que se esfumou da lareira dos sentidos
Que desapareceu com a nuvem do Outono
Não deixou marcas para trás.
Nenhum rasto para ser seguido
Ou paradeiro para ser encontrado
Para sempre na vastidão foi perdido
Quis ele sofregamente encontra-lo
E uma quimera perscrutou nos suas memórias
Iniciando uma árdua e incansável cruzada
Por entre as brumas dos íntimos desejos
Buscou no tempo e nos seus desígnios
Mas o Sonho há muito havia passado
Já não era o mesmo presente querido
E o futuro a outros estava dado
Revolveu todos os Bosques e Estepes
Perguntou às Arvores e bucólicas Giestas
Mas estas só tinham olhos para os Pássaros
Que lhes traziam de volta as Primaveras
Perguntou aos Pássaros se sabiam do seu Sonho
Se ele fluía pelas suas plumagens macias
Mas estes só cuidavam de sentir os Ventos
E da longa jornada que em breve empreendiam
Então sussurrou aos sete Ventos
E uma vez mais indagou do seu Sonho
Mas estes só lhe traziam novas dos Cerros
E do manto de neve que os esposava
E a Montanha respeitável e majestosa
De muitos sonhos já ouvira balbuciar
Todos diferentes nas cores e imagens
Todos iguais na vã esperança a olvidar
Então acercou-se da nobre Montanha
Das suas pedras e dos seus resquícios
E errou pelas grutas mais recônditas
E iluminou todas as sombras e precipícios
Mas esta, imponente e altiva
Só lhe falou dos seus Riachos
Pois estes eram os sinais de vida
Os filhos que brotavam do seu regaço
Mergulhou então na correnteza dos Riachos
Sentiu a textura e o vigor da água fria
O borbulhar que cortava o seu corpo
E a leveza que pelos seus dedos escorria
E perguntou ás ondas se do seu Sonho sabiam
Mas estas jocosa e lentamente lhe fugiam
Por entre o verde musgo e as lisas pedras
Procurando o Mar errante e as suas aguarelas
Então o Mar foi o seu séquito
As suas marés e as finas areias
Hoje com as dunas resplendorosas
Amanhã pela madrugada desfeitas
Ao Mar urrou pelo seu Sonho
E os ventos o levaram absorto
Para longe de si próprio
Para o ermo do seu corpo
E as Ondas lhe revelaram no seu ardor
Que o seu sonho jamais o havia abandonado
Antes jazia no seu âmago desterrado
Por uma vida sem mudança nem fulgor
E então se fechou o ciclo vacilante no Mar
Sem que nunca tenha começado ou acabado
Porque nem Homem nem destino podem matar
Aquilo que já existia ainda antes de ser sonhado.
Eugénio Rodrigues
By Anónimo, at 12:18 da manhã
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