Medicina & Arte

sábado, janeiro 17, 2009

POESIA

Sonho. Não Sei quem Sou
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Fernando Pessoa,

2 Comments:

  • Há memórias que se trazem como lastro...

    By Anonymous Anónimo, at 12:56 da manhã  

  • Era uma veZ

    Era uma vez um Sonho polido

    Que voou para longe do seu dono

    Que se esfumou da lareira dos sentidos

    Que desapareceu com a nuvem do Outono

    Não deixou marcas para trás.

    Nenhum rasto para ser seguido

    Ou paradeiro para ser encontrado

    Para sempre na vastidão foi perdido


    Quis ele sofregamente encontra-lo

    E uma quimera perscrutou nos suas memórias

    Iniciando uma árdua e incansável cruzada

    Por entre as brumas dos íntimos desejos


    Buscou no tempo e nos seus desígnios

    Mas o Sonho há muito havia passado

    Já não era o mesmo presente querido

    E o futuro a outros estava dado


    Revolveu todos os Bosques e Estepes

    Perguntou às Arvores e bucólicas Giestas

    Mas estas só tinham olhos para os Pássaros

    Que lhes traziam de volta as Primaveras

    Perguntou aos Pássaros se sabiam do seu Sonho

    Se ele fluía pelas suas plumagens macias

    Mas estes só cuidavam de sentir os Ventos

    E da longa jornada que em breve empreendiam


    Então sussurrou aos sete Ventos

    E uma vez mais indagou do seu Sonho

    Mas estes só lhe traziam novas dos Cerros

    E do manto de neve que os esposava


    E a Montanha respeitável e majestosa

    De muitos sonhos já ouvira balbuciar

    Todos diferentes nas cores e imagens

    Todos iguais na vã esperança a olvidar


    Então acercou-se da nobre Montanha

    Das suas pedras e dos seus resquícios

    E errou pelas grutas mais recônditas

    E iluminou todas as sombras e precipícios


    Mas esta, imponente e altiva

    Só lhe falou dos seus Riachos

    Pois estes eram os sinais de vida

    Os filhos que brotavam do seu regaço


    Mergulhou então na correnteza dos Riachos

    Sentiu a textura e o vigor da água fria

    O borbulhar que cortava o seu corpo

    E a leveza que pelos seus dedos escorria


    E perguntou ás ondas se do seu Sonho sabiam

    Mas estas jocosa e lentamente lhe fugiam

    Por entre o verde musgo e as lisas pedras

    Procurando o Mar errante e as suas aguarelas


    Então o Mar foi o seu séquito

    As suas marés e as finas areias

    Hoje com as dunas resplendorosas

    Amanhã pela madrugada desfeitas


    Ao Mar urrou pelo seu Sonho

    E os ventos o levaram absorto

    Para longe de si próprio

    Para o ermo do seu corpo


    E as Ondas lhe revelaram no seu ardor

    Que o seu sonho jamais o havia abandonado

    Antes jazia no seu âmago desterrado

    Por uma vida sem mudança nem fulgor


    E então se fechou o ciclo vacilante no Mar

    Sem que nunca tenha começado ou acabado

    Porque nem Homem nem destino podem matar

    Aquilo que já existia ainda antes de ser sonhado.

    Eugénio Rodrigues

    By Anonymous Anónimo, at 12:18 da manhã  

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