Medicina & Arte

domingo, dezembro 28, 2008

POESIA

Se, depois de eu morrer...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem setimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.

Alberto Caeiro

1 Comments:

  • Ao morrer,e esse dia virá,gostaria de pedir um último desejo:o de estar viva,apenas e só,para assistir à minha morte.Dispenso aplausos,dispenso as flores,dispenso elogios,as saudades...que ninguém tem agora.Depois de morrer,só por birrice,farei ouvidos moucos.Depois de morrer só ouvirei palavras e sentirei gestos que me tenham sido dirigidos em vida.

    By Anonymous Anónimo, at 12:22 da manhã  

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